O assunto é jazz
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Ilustração: UdiscoverMusic |
O som do computador toca uma canção qualquer. Quer dizer, qualquer canção vírgula, é uma música do norte-americano Herbie Hancock, um dos maiores nomes do Jazz contemporâneo. Pianista e ótimo compositor, reconheci logo pelo fraseado que ele consegue tirar das notas e teclas do piano. Para melhorar, está acompanhado de mais duas lendas vivas, o baixista Ron Carter e o baterista Tony Willians, velhos conhecidos do público brasileiro.
Pois é, mas só fui tomar gosto pelo gênero quando fiz cinquenta anos, há mais de uma década atrás. Daí para a frente tento tirar o atraso e praticamente só ouço standards, clássicos, fusions e improvisos, ao vivo ou não, de todos os músicos, intérpretes e arranjadores possíveis, de qualquer parte do mundo.
Graças a internet, é claro. E nesse ponto, recomendo os serviços do Rdio, Spotify, Google e Apple Music e por aí vai. Todos disponibilizam um enorme e abrangente acervo e o que você não encontra em uma, fatalmente achará na outra. Os torrents também estão aí mas prefiro “perder” meu tempo garimpando as estações de rádio do Jazzradio.com e similares, que é também uma forma de dar de cara, ou melhor, de ouvido, com uma boa surpresa.
Bem mais jovem, tive uma boa coleção de discos de vinil, quase todos de rock ou progressivo. Trocava de aparelhos de som como a turma hoje muda de smartphones. O chato disso é que a gente vai perdendo o foco na arte e, depois de um certo tempo, em vez de apreciar as músicas acaba ficando neurótico com a qualidade do som.
A era digital, com os CDs, se encarregou de acabar com essa neurose e o surgimento dos arquivos digitais Flac, MP3, AAC e por aí vai, assumidamente compressores (em todos os sentidos), ganhou em praticidade. Na verdade, jamais pensei que algum dia não haveria nenhuma mídia física em casa e as músicas ficariam em uma nuvem e em um disco rígido portátil.
De qualquer forma, ainda bem que fui me apaixonar pelo Jazz – como também pela música clássica – nesses dias de streaming, onde você acha o que quer ouvir em centenas de sites pela web afora. Chego em casa, ligo o note e já “sintonizo” alguma rádio ou escolho uma fera do Jazz para escutar.
Aliás, nesse momento mesmo, escrevo esse texto ouvindo o disco FourTune, de 1994, com o pianista Chick Corea, o saxofonista Ernie Watts, o baixista Andy Simpkins e o baterista John Dentz. E meus caros, quando começa o solo inicial de “My one and only love”, no sax, parar é preciso e, se religioso eu fosse, valeria até um Amém.
O título desta crônica é propositalmente o nome de um antigo programa de rádio que, três vezes por semana, se não me falha a memória, ia ao ar na antiga rádio Fluminense, no final da noite, exclusivamente tocando o bom e sempre atual Jazz. Tenho certeza que foi através dele que descobri a beleza e a criatividade dessa expressão musical.
Ao contrário do que muita gente pensa, o Jazz não morreu ou ficou ultrapassado. Nunca vi tantos músicos, inclusive aqui no Brasil, tocando ou sendo influenciados por ele. É como bem disse o grande cantor Tony Bennett: "Jazz é o momento. É vivo, é som, é dança. A música toca a emoção e as palavras, a mente."
(2014)
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