De cara no chão

Foto: O Globo


Essa crônica é do tempo que eu morava no Rio e caminhava ou corria diariamente na orla da zona sul. Bons tempos.


E lá ia eu, hoje pela manhã, em plena Praia de Ipanema, passo acelerado na calçada, de olho no objetivo: chegar no final do Leblon e retornar até o Posto 4, em Copa, uma jornada com mais de dez quilômetros. A primeira parte, até o Arpoador, correu (sem trocadilhos) tranquila. Animado, dei uma meia trava, alonguei as pernas e iniciei a segunda fase.


Pois sim! No meio do caminho tinha uma pedra. Portuguesa, é claro. Na altura do antigo Barril 1800 pisei em algo solto e imediatamente perdi o equilíbrio. Era uma pedrinha do calçamento que ficou girando embaixo do tênis. Desabei para a frente, como um saco de batatas. Mas, por sorte, não enfiei a cara no chão. Tirando o susto e a péssima sensação de desequilíbrio, sai com apenas uns leves arranhões nos joelhos e cotovelos. Um tombo “leve”, digamos assim.


Só que aí acabou a concentração para encarar a jornada. Depois de confirmar que não tinha nada fora do lugar, fiz meia volta e terminei o treino com os habituais seis quilômetros de duração. Não há de ser nada, amanhã repito a dose (a distância, não a queda).


oOo


Se a memória não está me traindo, caí pouquíssimas vezes nessa vida. Quatro foram da pesada: garoto ainda, andando de patins dei uma trombada numa menina que entrou correndo no ringue de patinação, decolei, bati com a cabeça na mureta lateral e apaguei por alguns segundos. A figurinha que me derrubou quebrou os dois dentes da frente, de leite, para sua sorte.


Os seguintes foram andando de bicicleta na calçada, que vergonha…. Mas, a meu favor, é bom lembrar que na década de 60 as ciclovias ainda não haviam sido inventadas, pelo menos aqui no Rio. Peguei a ladeira da Rua Bulhões de Carvalho a toda velocidade, quando tentei fazer uma curva de 90º para entrar na Souza Lima. Danou tudo: a bike tombou para um lado e fui jogado para o outro. Voltei para casa todo arranhado, rasgado e a Merckswiss completamente torta.


No outro bati de frente em um poste na Raul Pompéia e cai dentro de um jardim cheio de “Coroas-de-cristo”, aquela plantinha espinhosa que nasce em qualquer lugar. Pura distração e excesso de velocidade. Minha mãe só não me trucidou porque ficou ocupada tirando espinhos do manezão aqui.


O último foi em Santos, na casa de minha tia, com um monte de primos sem nada para fazer num dia chuvoso. Provoquei o namorado de uma de minhas primas até não poder mais e, quando saí correndo para o jardim para não ganhar uns cascudos, escorreguei no piso de cerâmica, caí para trás, bati a cabeça e ainda fui deslizando até o portão da garagem. O pior foi ouvir o camarada gritando para dentro de casa, às gargalhadas: “Marina, corre aqui que seu primo está estendido no portão da casa”!


É de doer. Literalmente. Aliás, é bom alertar que, depois de uma certa idade, tombos são sempre um risco de acidentes mais sérios. É como diz um amigo nosso, médico de primeira e idade de terceira: “o que mata velho é tombo”.


Essa é para decorar.


(2015)


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