A Rosa do Rio
A jovem executiva parou no sinal para atravessar a avenida e, sem mais nem menos, veio à sua cabeça o verso “pensem nas crianças mudas telepáticas”, do Vinícius de Moraes. Cismada, puxou da memória o verso seguinte: “pensem nas meninas cegas inexatas”. Nossa, aí veio o resto com música e tudo, “pensem nas mulheres rotas alteradas, pensem nas feridas como rosas cálidas”.
Caramba, o povo já estava do outro lado da rua e ela parada debaixo do sol, suando litros, com a música do Ney Matogrosso na cabeça. Aí se tocou que era isso, o sol, o calor, a luz quase branca que tomava conta do centro da cidade. Dava até para imaginar – que mané imaginar nada - sentir mesmo, como os japoneses receberam os no corpo os primeiros efeitos da bomba atômica.
Pois é, um exagero, claro, mas se servia de consolo, a Rosa do Rio era apenas isso, calor tropical. Não matava ninguém, pelo menos não na hora. Olhou o relógio, percebeu que estava atrasadíssima para a audiência e atravessou a Rio Branco no meio dos carros, ônibus e motos.
Isso sim, uma completa loucura!
(2016)
Foto: Depositphotos
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