Domingo na praia

Foto: Carlos Emerson Junior


De repente o mar deixou uma bola azul aos meus pés. Esperei o grito de alguma criança reivindicando sua posse. Que nada, ninguém se importou ou sequer notou. A bola rolou um pouco na areia molhada e parou, aguardando que uma outra onda a levasse para outros destinos.

Parei a caminhada. Um pouco mais além uma mulher reclamava de outra que estava com um cachorro dentro do mar. O discurso era tão feroz que, apesar de saber que ela tinha toda a razão – é proibido e basta chamar um guarda para tirar o animal – perdi toda a vontade de manifestar solidariedade ou simpatia. Olhei de novo para a bola azul, indiferente e solitária. 


Lembrei que ali mesmo aprendi a nadar, ainda menino. As aulas ensinavam o nado de sobrevivência, permitindo que fossemos bem longe, sem cansar. Aprendi a respeitar as águas. O mar é poderoso e com ele não se brinca. O velho instrutor, um oficial aposentado da marinha, há muito se foi. E já faz tempo que não nado no mar.


Cheguei bem perto da bola azul. A discussão sobre o cachorro prosseguia e fiquei com vontade de dar um chutão na bola na direção das criaturas que perturbavam com sua inconveniência o sossego de um final de domingo, o primeiro domingo do verão. Desisti. A bola azul merecia um epílogo mais digno.


Não pensei duas vezes: tirei a camiseta, descalcei as havaianas, botei a bola debaixo do braço e entrei na água fria. Estiquei o corpo para a frente e nadei, nadei até a altura da ponta do Forte de Copacabana. Levantei-me um pouco e arremessei a bola o mais longe que pude. Satisfeito, virei e retornei para a praia.


Estava nadando outra vez.


(2014)



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