O inimigo no banheiro!
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Terminou de ler o capítulo do livro, coçou a cabeça, bocejou com gosto e ia se preparar para dormir quando o telefone tocou. Era de sua casa, lá no Rio.
– Oi amor, já está com saudades? A gente se falou não tem nem uma hora….
– Amor, tem uma barata enooorme no banheiro!
– No banheiro? Caramba, mas tem certeza, você viu?
– Não vi não, foi a Mari que achou. Disse que ela é enorme, parece um besourão.
– Vai ver é um besouro mesmo. Basta apagar a luz que ele vai embora.
– Nãooo, ela jura que é uma barata voadora. E o pior é que está dentro do armário. O que eu faço agora?
– Puxa vida, sei lá. Só me ocorre chamar um táxi, descer aí pro Rio, matar a monstra e voltar para Friburgo. A essa hora nem ônibus tem mais.
– Eu sei, mas como é que vamos dormir sabendo que tem uma coisa nojenta no banheiro?
– Olha só, sua filha é exagerada. Outro dia ela me chamou para matar uma bruxa enorme que tinha entrado no quarto e era apenas uma mariposinha ordinária que eu tirei de casa com a mão. Tenta ver se a tal barata Godzilla é isso tudo mesmo e mete uma chinelada nela. Amanhã a faxineira recolhe o "de cujus".
– Não sei não…. Acho que vou aceitar sua oferta de vir aqui no Rio matar a barata!
– Pelamordedeus, você está falando sério? Isso vai custar uma fortuna! Pede para o porteiro ver o que está acontecendo.
– Ah não, o porteiro está dormindo e o vigia noturno não pode abandonar a portaria.
– E seu pai?
– A essa hora ele vai levar o maior susto, coitado!
– Já pensou em chamar a Defesa Civil?
– Debocha vai, não é você que vai dormir sabendo que tem um baratão zanzando pelos corredores escuros!
- Gente, que drama. Solta a cachorra em cima da barata. Afinal, ela é ou deveria ser caçadora e muito persistente.
– De jeito algum. Imagina se vou deixar a Filó morder uma barata! Que coisa horrível.
- Puxa amorzinho, está difícil. Faz o seguinte: tranca o banheiro e deixa um bilhete prá coitada da faxineira fazer o serviço de carrasco.
- O banheiro já está trancado e as saídas vedadas. A Mari queria encher tudo com veneno de aerossol mas não deixei, afinal sou alérgica e ainda podia fazer mal para a Filó. Acho que não tem jeito, vou ter que passar uma noite horrorosa. Essas coisas só acontecem quando você não está aqui, incrível.
- Amor, relaxa. Faz isso mesmo e qualquer coisa você me telefona. Tem certeza que vai ficar bem?
- Claro que não, quem fica bem sabendo que tem um baratão em casa, ô manezão?
– Desculpe, desculpe, falei por gentileza. Mais alguma coisa?
– Não, vou dormir. Amanhã telefono, tá bom? Um beijão.
– Um beijão pro cê também.
Suspirou fundo e foi tomar um leite. O mais engraçado é que nunca lhe perguntaram se tinha medo de baratas, besouros, bruxas e outros insetos do gênero. Simplesmente tinha de resolver a situação, tivesse nojo ou não.
Tudo bem, desta vez escapara! Foi dormir tranquilo.
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Publicado no Caderno Light do jornal A Voz da Serra, de Nova Friburgo, edição de 25/9/2011.
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