O alienígena

© Carlos Emerson Junior

 

De repente, no meio de uma rua deserta do Sans Souci, uma bolinha espinhenta, com jeito de já ter sido um vegetal, despencou lá do céu, bateu no boné e caiu bem minha frente, na calçada. Passado o rápido susto, me abaixei para ver o que seria aquilo.

- Leve-me ao seu líder!

A voz era imperial, autoritária, mas soava muito engraçada, fininha, parecia aqueles discos de vinil tocados na rotação mais rápida.

– Quem falou?

– Eu, seu idiota, você está quase pisando em mim.

Não havia dúvidas, a voz aceleradinha vinha da, do, sei lá, coisa marrom cheia de pontas.

- Leve-me ao seu líder ou aguente as consequências.

Não é possível, devia ser um sonho ou alguma pegadinha de uma das tvs locais. Olhei para os lados, para cima e nada, tudo continuava deserto como sempre.

– O que quer dizer com consequências?

- Vamos acabar com seu mundo em questão de minutos. Bilhões de seres como eu despencarão em cima de toda a vida do seu planeta e a culpa terá sido sua.

Fiquei em dúvida. Para quem eu levaria a bolinha? O prefeito? Nem pensar. O governador ou presidente? No caso, como era uma ameaça ao planeta Terra, talvez o mais indicado fosse o Secretário-Geral da ONU. E como eu ia chegar em minutos em Nova York? Ah, caramba, bem que eu não estava com a menor disposição de sair para andar. A noite estava gelada e, confesso, exagerei no vinho tinto. Agora aguenta, o pesadelo vai me acompanhar o dia inteiro.

Ou não!

Dei um chute na bolinha que subiu e caiu dentro de uma casa vazia, logo a frente. Fechei os olhos e fiquei esperando o apocalipse, a terrível chuva de bolinhas pontudas. Um segundo, dez segundos, um minuto.

– O senhor está passando bem?

Levei outro susto! Era o jardineiro da casa amarela, logo atrás de mim. Olhei bem em volta e o mundo prosseguia sua rotina. Agradeci a atenção e resolvi encerrar a caminhada ali mesmo, vai que a história das bolinhas fosse alguma coisa além da imaginação. Voltei, fiz festa na cachorra e mergulhei na minha cama ainda quentinha. Bolinhas falantes, só me faltava essa.

(2019)


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