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Mostrando postagens de junho, 2022

O bazar

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© Carlos Emerson Junior   Leu o aviso no quadro-negro, paro u, atravessou a rua e meio sem jeito deu uma espiada além da porta. Roupas penduradas em araras, sapatos, luvas, echarpes, cintos, mulheres para todos os lados conversando ou examinando as peças. Literalmente, um bazar de verdade, bem de frente para o mar. Reconh eceu a dona do negócio. Jovem e bonita, destacava-se das demais por uma única e simples razão, já se conheciam das caminhadas diárias. Ela sempre correndo, ele andando acelerado e invariavelmente se cumprimentando quando se cruzavam em algum ponto da rota. “O senhor deseja alguma coisa? Um presente para sua esposa, ou filhas, quem sabe?” A moça bonita o olhava com curiosidade. Ficou desconcertado, sorriu meio amarelo e tentou explicar que só entrara ali para ver como era o bazar, uma novidade naquele bairro onde não acontecia absolutamente quase nada. “Vem cá, eu sou a Lara e você é o….? “Paulo”. “Pois é, Paulo, acho que somos vizinhos, não é mesmo?

A crônica sumiu

  Imaginemos a seguinte situação: o despertador toca, toca, mas nada acontece. Sua mulher resolve ver o que está acontecendo e surpresa! Não tem ninguém no quarto. Acreditando que é uma brincadeira fora de hora, vai checar no banheiro, na sala, no quarto das crianças. Nada. Já assustada, vai até o sótão, a garagem, a casinha do cachorro. Volta ao quarto e checa o guarda-roupas. Não, ele não se trocou e junto ao travesseiro seu celular ainda dorme. Não adianta, o marido, que há uns quinze minutos roncava como uma locomotiva a vapor, desapareceu e de pijama. Mas piora. O despertador toca, você acorda, cambaleia até o banheiro, lava o rosto, escova os dentes e vai para a cozinha perguntando para a patroa se o café já está pronto. Mas, cadê a patroa? E as crianças? Saíram todos e não me avisaram? Pegou o celular e ligou para a mulher: consternado ouviu o aparelho berrando na cozinha. Olhou pela janela e não viu ninguém. Correu para a rua e tocou a campainha do vizinho. Silêncio. Bateu n

Entrevista de carnaval

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© Carlos Emerson Junior        Encontrei a professora C. na dispersão do bloco carnavalesco “Perereca Peçonhenta”, bem em frente a Alerj, no Centro do Rio. Foi fácil identificá-la no meio de tanta gente animada: era a única mulher fantasiada de político, ou seja, terno escuro, gravata, camisa social branca, peruca de careca e um par de tornozeleiras eletrônicas! Antes de mais nada, é bom deixar bem claro que a entrevistada pediu anonimato completo e por esse motivo só posso adiantar que ela possui mestrado em ciências políticas e sociais, é escritora, trabalha em uma universidade federal, publicou vários livros e escreve em jornais do Rio e SP. Apesar de meu receio de abordar assuntos “sérios” em pleno carnaval e logo após o desfile de um bloco de rua, não tive outra opção. A entrevista foi gravada em um bar da Urca. oOo Professora, todos os políticos deveriam usar tornozeleiras eletrônicas? Ou isso daria margem para montar outro esquema de superfaturamento para financi

2050

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  ; © BBC   Em 2050 a população do planeta chegará ao espantoso número de 9.6 bilhões de pessoas. A expectativa de vida média será de 76 anos. A Índia será o país mais populoso do mundo, enquanto a Europa registrará um decréscimo demográfico de 14%.   Em 2050, 7.2 bilhões de pessoas (75%) viverão em cidades com as preocupaç ões de sempre: saúde, transporte, educação, segurança e gerenciamento de emergências, Cidades pequenas e médias serão engolidas por cidades cada vez maiores, as megacidades. Dois terços dessas monstruosidades localizadas em países subdesenvolvidos.   Em 2050, 3 bilhões de pessoas estarão em situação de pobreza, morando em locai s sem água potável, saneamento, eletricidade, saúde e educação. Cidades imensas degradadas, possivelmente sem um governo de fato, convivendo com epidemias, violência e miséria. E, como hoje, as pessoas migrando de um lugar para outro em busca de esperança de vida.   Em 2050, mais de 65 milhões de idosos representarão quase 29

Rádio de navio

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© Encyclopedia Britannica   Era um móvel de madeira escura que abrigava um moderno (para os padrões dos anos 50)  toca-discos com duas velocidades, 78 e 45 rpm e um enorme rádio naval, daqueles que a gente via nos navios da última grande guerra, adquirido por um tio em um leilão da Marinha.  O bicho, imponente, cheio de botões, osciloscópio e um ar meio bélico, pegava estações do mundo inteiro e só não transmitia mais nada porque essa função fora desativada.   Meus pais adoravam música e ouvir rádio, naqueles dias, equivalia ao nosso hábito de assistir televisão ou interagir com a internet. Assim, falar que cresci ao som das ondas de rádio, é um baita clichê, seja de que ângulo for! A outra grande diversão, ir ao cinema, era quase um ritual, ainda mais para uma criança pequena. Lembro com muito carinho das matinês aos domingos no belo Metro Copacabana que, infelizmente virou uma loja de roupas...   Mas voltemos ao rádio de navio, que é como eu e minha irmã chamávamos aqu