Barlavento

 

 

© Carlos Emerson Junior

 

Em algum ponto da década de 80, no século passado, eu resolvi velejar. Um amigo deu a maior força e lá íamos nós, todos os sábados, cruzar as águas da Baia da Guanabara, conduzindo um veleiro, dois marinheiros aprendizes, maravilhados com o silêncio e a arte de usar as águas e o vento para ir a qualquer lugar.

 

Não importava se o dia estava claro e o mar de almirante. Ou se a chuva e o vento sudoeste traziam ondas escuras, jogando o barco para cima e para baixo, com a visibilidade quase caindo a zero. A pior parte, sempre, era quando chegava a hora de retornar ao cais, manobrar e lançar as amarras: significava que a magia estava encerrada.

 

Em terra aprendemos termos náuticos, uma linguagem completamente diferente e ao mesmo tempo universal. Palavras como adriças, barlavento, sota-vento, bombordo, boreste, popa, proa, escota, genoa, mestra, balão, moitão, quilha, guarda-mancebo, estai, brandai, cana de leme e leme só soam naturais dentro de um veleiro. Seu lugar é ali.

 

Os anos se foram e os dias de vela terminaram ficando como uma boa lembrança. Vários amigos continuam no mar e hoje tenho dúvidas se deveria ter me afastado tanto do litoral, ficando a sota-vento de minhas origens.

 

Barlavento e sota-vento se referem ao lado da embarcação de onde e para onde o vento sopra. Geograficamente é como o ar em direção a uma montanha, forçado a subir, condensando-se e provocando chuva. Após passar seu cume, já sem umidade e aquecido, desce. Por isso é comum encontrar florestas a barlavento e áreas mais áridas a sota-vento.

 

O vento que enche a sua vela vem de longe e, bem manejado, coloca o barco em movimento. Navegar bem é uma arte e um ofício que exige dedicação e conhecimento, como a vida, aliás. Que seja a barlavento, pois.

 

 

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