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Mostrando postagens de maio, 2022

Suspeita clínica não é uma clínica suspeita

  Ou o suspeito é sempre o culpado. A palavra, não o cidadão, que tem à sua disposição o direito de defesa em primeira, segunda, terceira, quarta e sei lá quantas instâncias, ainda mais se for amigo de um magistrado ou puder pagar um advogado de primeira linha.  Mas vamos ao caso: a suspeita caminhava de maneira suspeita por uma suspeitíssima viela numa comunidade carioca prá lá de suspeita. Por sua vez, em uma viatura da policia, suspeita, é claro, policiais observaram a atitude suspeita da suspeita e, de uma forma muito suspeita, a abordaram. Um “di menor” que passava por ali, viu a cena e, suspeitosamente saiu correndo morro acima. Pois é, hoje a imprensa usa e abusa do suspeito, mesmo quando o elemento é pego com a mão na botija ou melhor, com uma arma na mão atirando em uma infeliz vítima. Querem um exemplo? Aquele monstro que trancou duas mulheres no banheiro da casa , incendiou o imóvel e fugiu, matando as duas queimadas. Alguns jornais do Rio chegaram a noticiar que o sus

O caso das bananas

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    © Carlos Emerson Junior   Uma jovem, durante a quarentena, resolve preparar uma iguaria de infância, banana cozida, servida com açúcar e canela, uma delícia. Liga para o mercadinho da rua e pede para entregarem em sua casa 5 bananas da terra, bem maduras. O atendente anota o pedido, combinam a entrega e voltam as suas atividades: ela, terminar o trabalho gráfico no computador caseiro e ele, separar as bananas, embalar e chamar o motoboy para fazer a entrega. Tudo normal, apenas mais uma compra em um dia de isolamento social. Quinze minutos depois o interfone da jovem toca, devem ser as bananas, pensa a jovem enquanto atende a ligação: - Sim, fui eu mesma. Dá para colocar no elevador e mandar pra cá? Que bom, obrigada. E dito isto caminhou até o corredor, aguardou a chegada do elevador, abriu a porta e quase caiu dura para trás: ao invés das 5 bananas, o infeliz do dono do mercado tinha enviado 5 pencas com 12 frutas, ou melhor, 60 bananas! E agora? Só um batalhão par

Barlavento

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    © Carlos Emerson Junior   Em algum ponto da década de 80, no século passado, eu resolvi ve lejar. Um amigo deu a maior força e lá íamos nós, todos os sábados, cruzar as águas da Baia da Guanabara, conduzindo um veleiro, dois marinheiros aprendizes, maravilhados com o silêncio e a arte de usar as águas e o vento para ir a qualquer lugar.   Não importava se o dia estava claro e o mar de almirante. Ou se a chuva e o ve nto sudoeste traziam ondas escuras, jogando o barco para cima e para baixo, com a visibilidade quase caindo a zero. A pior parte, sempre, era quando chegava a hora de retornar ao cais, manobrar e lançar as amarras: significava que a magia estava encerrada.   Em terra aprendemos termos náuticos, uma linguagem completamente diferente e a o mesmo tempo universal. Palavras como adriças, barlavento, sota-vento, bombordo, boreste, popa, proa, escota, genoa, mestra, balão, moitão, quilha, guarda-mancebo, estai, brandai, cana de leme e leme só soam naturais dent

Vento ventou

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  Google Imagens   “Caminhando contra o vento, sem lenço e documento. No sol de quase dezembro, eu vou.” Pois é, a canção de Caetano Veloso, que tanto me entusiasmou nos anos 60, não só pelos versos quase jornalísticos como pelo som distorcido do grupo de rock paulista The Beat Boys, colocando guitarras na então chamada MPB, veio imediatamente a minha cabeça quando cheguei na praia para a caminhada diária e matinal da quarta-feira da semana passada. Ventava muito, mas eu tinha os documentos. Afinal, carioca prevenido sempre tem consigo uma xerox da identidade, um telefone de emergência e uns trocados. Aqui, meus queridos, a gente nunca sabe o que vai encontrar pela frente. Mas caminhava contra o vento, sem lenço e no sol de quase dezembro. E ia. Para ser sincero, não saí cantarolando a música, muito pelo contrário. A areia que o vento jogava diretamente na cara de quem corria ou caminhava, atrapalhava a visão, a coordenação e a necessária concentração. Pior, o calçadão

Cortando o cabelo

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    De repente todo mundo resolveu reclamar do tamanho do meu cabelo e da minha barba, logo eu, que conto nos dedos os pelos capilares que me restam. Aliás, pela primeira vez na vida queimei no sol o cocuruto da cabeça (também conhecido como careca). De agora em diante, praia, caminhada ou qualquer atividade só com protetor solar ou chapéu, uma situação humilhante para quem foi tão cabeludo quanto qualquer metaleiro que se preze. Mas divago, reclamo e perco o rumo da escrita. O absurdo dessa história é que, apesar de careca, ainda tenho muito cabelo, pessimamente distribuídos, é claro, parece até o Brasil. Enfim, minha mulher delicadamente deu um toque e lá fui eu para o barbeiro: – Raspa com máquina zero: cabeça, barba e as sobrancelhas! – Como? O senhor está se sentindo bem? Meu barbeiro é um senhorzinho gente fina, fala pouquíssimo e treme que nem um ônibus carioca no Aterro do Flamengo. No entanto, trabalha com muita atenção e cuidado. Até hoje, apesar de só aparar a barba co

Guerra justa?

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  Foto: AP News/Felipe Dana   O que seria uma guerra justa? Uma guerra religiosa? Racial? Defesa? Expansão? Civil? Revolucionária? De libertação? Vingança? Retaliação? Segurança? A única saída? A guerra que vai acabar com todas as guerras? Não, decididamente não sei o que seria uma guerra justa.   Guerras são imorais, selvagens, a barbá rie levada ao seu paroxismo. Guerras servem para dominar, exterminar, subjugar e escravizar. Só nos séculos 20 e 21, quase 90 milhões de pessoas morreram em conflitos que vão desde as duas guerras mundiais, até os brutais massacres em nome de sei lá o quê.   E isso sem contar os milhões de refugiados expulsos de suas casas e países.   A guerra é a completa falência do ser humano, a incapacidade da humanidade resolver seus problemas através do diálogo. Como podemos nos considerar “animais racionais”se matamo-nos com uma fúria não encontrada sequer nos grandes predadores “irracionais”? Chegamos a tal ponto de “sofisticação”, que construí

Corvus oculum corvi non eruit

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    Um corvo não arranca o olho de outro corvo, enquanto ambos são coniventes e convenientes, enquanto precisarem um do outro. A expressão em latim serve muito bem para o momento político que estamos vivendo, Supremo, Congresso, Executivo e Judiciário, cheios de corvos unidos para manter em nosso país a esbórnia existente desde a década de 60. Infelizmente são muitos, o que é frustrante, desanimador.  Corvus oculum corvi non eruit. Os romanos tinham razão.