Contos ou crônicas?

Contos rendem crônicas? Ou seria o contrário? De qualquer maneira, estou falando de dois gêneros literários diferentes, apesar serem quase irmãos. Basicamente, o primeiro conta uma história geralmente curta, de ficção ou não, enquanto o outro fala sobre o cotidiano, num estilo que beira o jornalismo. 

 Cresci cercado de crônicas por todos os lados. Meu pai contava os casos da capital (o Rio de Janeiro, óbvio) nos jornais de Campinas. Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Nélson Rodrigues e tantos outros foram leitura obrigatória na adolescência. O efeito colateral foi sério: contos, romances, poesias e uma vontade incontrolável de escrever. 

Crônicas geralmente são envolventes, acessíveis, familiares até. Uma celebridade morreu? Crônica nela! O governador roubou e foi cassado? Crônica nele! Qualquer assunto é motivo para uma crônica, não importa se é árido como uma lápide, fogoso como o carnaval, triste como um velório. 

Já os contos são uma espécie de beijo roubado, escreveu um dos meus escritores favoritos, o americano Stephen King, autor de romances e contos de primeira linha. E ele tem razão, um bom conto pode ser uma surpresa como foi “O homem que falava javanês”, do Lima Barreto, publicado em 1911. 

Contos contam histórias, simples assim. Românticas, policiais, espaciais, urbanas, rurais, o que você imaginar. O homem conta histórias desde a época das cavernas, quando desenhava nas paredes como tinha sido a caçada do dia. Com o passar do tempo, as histórias (verídicas ou não) que eram contadas em volta das fogueiras, passaram a ser escritas e hoje são acessíveis a qualquer um. 

Escrever um conto é uma mistura de imaginação, organização e uma boa pitada de inspiração. Contos podem ser geniais, estranhos, assustadores, educativos ou medíocres, não importa, por mais criativo que você tenha sido quando colocou as ideias no papel (monitor? smartphone?), uma parte sua sempre estará lá. Já li em algum lugar que contos são quase nossos filhos. 

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A propósito, quanto custa um trabalho intelectual? Para ser direto, será que escrever um artigo regularmente, até mesmo aqui para o blog não deveria ter algum tipo de retorno? Escrever exige pesquisa, tempo, atenção, disciplina e dedicação, sem esquecer o mais importante, honestidade e transparência. 

Escrever também é um trabalho braçal. A sensação de sentar diante de um monitor vazio, com o prazo de entrega estourando e a vaga sensação de que não tem absolutamente nada para dizer é sempre angustiante. Isso sem falar na preocupação com a grafia correta, a acentuação, uso de vírgulas, a fluidez do texto e, é claro, sua inteligibilidade. 

Qualquer pessoa sempre tem algo a dizer, mas bem poucos se atrevem a escrever e se expor. Afinal, como muito bem Clarice Lispector definiu, “escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.”

(2022)

 

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