Ponto final
Sentiu-se só, inseguro e doente. Tristeza, muita tristeza. A barriga doía. As mãos, molhadas de suor que também escorria de seus ralos cabelos, tremiam. Para disfarçar, enxugou o rosto com um papel toalha, escondeu as duas nos bolsos da calça, respirou bem fundo para ver se a tremedeira ia embora e seguiu o caminho. Pensou que todo início de jornada sempre é assustador.
Precisava escolher seu destino. Qualquer um, aliás. Decidiu entrar na primeira estrada que encontrasse. Andou pelas ruas da cidade na direção do interior e logo se deparou com uma saída para um lugar chamado “Ponto Final”. A placa indicativa, quase oculta pelo mato e muito enferrujada, não trazia nenhuma outra informação. Sem nenhuma dúvida no coração, seguiu em sua direção.
A estrada, comprida, isolada e longa, induzia a uma caminhada lenta e reflexiva. A paisagem monótona de morros e mais morros devastados pela cultura cafeeira do século XIX, o céu encoberto por nuvens cinzas até onde a vista alcançava e um ar constantemente quente e abafado, só aumentavam a sensação de cansaço e desânimo. Curiosamente ainda não cruzara com nenhuma pessoa ou sequer um carro.
Algumas horas depois, parou embaixo de uma árvore para aproveitar sua sombra, beber uma água e descansar um pouco. Tirou as botinas, colocou as meias para tomar um ar, recostou no tronco e exausto, cochilou. Acordou algum tempo depois com gotas de água no rosto e um estrondo: chovia e o barulho era um trovão. Só faltava essa! Pensou em seguir assim mesmo, mas o que caía de água era assustador. Melhor ficar por ali.
Do nada surge um sujeito correndo, pede licença e se abriga da tempestade na mesma árvore. Os dois se cumprimentam, fazem um comentário besta sobre o tempo e aguardam em silêncio. O estranho, para quebrar o gelo, indaga, solícito:
– Para onde o senhor vai?
– Até o final desta estrada, numa localidade curiosamente chamada de “Ponto Final”.
– Mas... O senhor já chegou, aqui é o “Ponto Final”.
– Como assim, não tem uma casa nas redondezas, o senhor foi a primeira pessoa que encontrei em mais de três horas de caminhada. Não brinca vai, falta muito?
– Não, não precisa andar mais, logo, logo, o senhor vai entender. E me perdoe, tenho que continuar, mesmo com o céu desabando. Obrigado pelo abrigo e adeus, vá em paz.
Foi o estranho sumir na estrada encharcada e um barulho ensurdecedor, como se fosse a explosão de uma bomba, fez tremer todo o terreno em volta. Ao mesmo tempo, um raio cortou de cima a baixo a árvore que servia de abrigo, deixando um rastro de faíscas, chamas, eletricidade e fumaça. Galhos, vegetação e seu tronco calcinado tombaram devastados. Em choque e agonizando, demorou alguns segundos para entender que sua jornada havia terminado.
O estranho tinha razão, o “Ponto Final” era ali mesmo.
(2019)
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